quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Kleiton Lima: de 'espião de Parreira' à busca pelo ouro no Pan


Aos 37 anos, Kleiton Lima busca afirmação em sua carreira como treinador de futebol. Mas antes mesmo de possivelmente conquistar sua primeira medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos, nesta quarta-feira, já se pode dizer que ele tem serviços prestados ao futebol nacional. De forma inusitada, o atual comandante da Seleção Brasileira feminina atuou como espião do técnico Carlos Alberto Parreira na campanha do tetracampeonato mundial, em 1994.  
Depois de passar por clubes pequenos de São Paulo, Kleiton Lima aceitou o desafio de, aos 20 anos, fazer parte de uma equipe de futebol na cidade de São Francisco, no momento em que se buscava popularizar o esporte nos Estados Unidos. Campeão californiano, o time foi selecionado para treinar contra a Rússia, que fez parte o grupo do Brasil na Copa do Mundo, ao lado de Camarões e Suécia.
A equipe de Kleiton Lima realizou uma semana de treinamentos com os russos, além de dois jogos-treinos. O brasileiro também foi muitas vezes selecionado para completar alguns trabalhos com a seleção, o que deu a ele um bom conhecimento da tática daquele que seria o primeiro adversário do Brasil no Mundial.
- Era a primeira Copa do Mundo depois do fim da União Soviética. Então, os russos ainda eram muito fechados. Todos os treinamentos foram sem a presença da imprensa, o que criou um clima de mistério - lembrou Kleiton Lima.
Após um dos treinamentos, ele foi descoberto pela imprensa brasileira que tentava conversar com a delegação russa. Depois de conceder entrevistas e falar sobre os adversários do Brasil, foi convidado por Zagallo para uma reunião. O objetivo era transmitir a Carlos Alberto Parreira tudo o que vinha sendo trabalhado, além da maneira de atuar dos jogadores da Rússia.
- Na conversa, o Parreira disse que eu seria o espião do Brasil. Pediu que eu preenchesse um relatório com as minhas observações. Então, depois de cada treinamento eu seguia para a concentração da Seleção e transmitia o que tinha acontecido. Durante as atividades, eu mal podia falar, para que não descobrissem que eu era brasileiro - disse ele, que sente-se de certa forma responsável pela vitória por 2 a 0, com gols de Romário e Raí, de pênalti.
E foi exatamente nos Estados Unidos que começou o interesse de Kleiton Lima pelo futebol feminino. Observando a prática do esporte no país – então muito mais difundido entre as mulheres do que os homens –, ele decidiu retornar ao Brasil no ano seguinte com a ideia de montar uma escolinha de futebol feminino.

No momento de escolher o nome, não deixou de lado sua experiência nos Estados Unidos e, em 1995, fundou o Spy Soccer, em referência à palavra “espião”, em português. Naquele momento, Kleiton Lima ainda jogava, mas logo em seguida decidiu se dedicar à faculdade de Direito e à escolinha. Em 1997, deu início à carreira de treinador integrando a comissão técnica do Santos que disputou o Campeonato Paulista de Futebol Feminino.
- Pode ser que a minha experiência com a Seleção na Copa de 94 tenha influenciado na minha decisão de ser treinador, sim. Mas o principal foi o meu interesse pelo futebol feminino e minha vontade de contribuir para popularizá-lo - explicou Kleiton, que está à fente da Seleção de 2009 e comandou o Santos de Marta, Cristiane e Maurine na conquista da Libertadores.
Fonte: Globo.com