Aos 37 anos, Kleiton Lima busca afirmação em sua carreira como treinador de futebol. Mas antes mesmo de possivelmente conquistar sua primeira medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos, nesta quarta-feira, já se pode dizer que ele tem serviços prestados ao futebol nacional. De forma inusitada, o atual comandante da Seleção Brasileira feminina atuou como espião do técnico Carlos Alberto Parreira na campanha do tetracampeonato mundial, em 1994.

A equipe de Kleiton Lima realizou uma semana de treinamentos com os russos, além de dois jogos-treinos. O brasileiro também foi muitas vezes selecionado para completar alguns trabalhos com a seleção, o que deu a ele um bom conhecimento da tática daquele que seria o primeiro adversário do Brasil no Mundial.
- Era a primeira Copa do Mundo depois do fim da União Soviética. Então, os russos ainda eram muito fechados. Todos os treinamentos foram sem a presença da imprensa, o que criou um clima de mistério - lembrou Kleiton Lima.
Após um dos treinamentos, ele foi descoberto pela imprensa brasileira que tentava conversar com a delegação russa. Depois de conceder entrevistas e falar sobre os adversários do Brasil, foi convidado por Zagallo para uma reunião. O objetivo era transmitir a Carlos Alberto Parreira tudo o que vinha sendo trabalhado, além da maneira de atuar dos jogadores da Rússia.
- Na conversa, o Parreira disse que eu seria o espião do Brasil. Pediu que eu preenchesse um relatório com as minhas observações. Então, depois de cada treinamento eu seguia para a concentração da Seleção e transmitia o que tinha acontecido. Durante as atividades, eu mal podia falar, para que não descobrissem que eu era brasileiro - disse ele, que sente-se de certa forma responsável pela vitória por 2 a 0, com gols de Romário e Raí, de pênalti.
E foi exatamente nos Estados Unidos que começou o interesse de Kleiton Lima pelo futebol feminino. Observando a prática do esporte no país – então muito mais difundido entre as mulheres do que os homens –, ele decidiu retornar ao Brasil no ano seguinte com a ideia de montar uma escolinha de futebol feminino.
No momento de escolher o nome, não deixou de lado sua experiência nos Estados Unidos e, em 1995, fundou o Spy Soccer, em referência à palavra “espião”, em português. Naquele momento, Kleiton Lima ainda jogava, mas logo em seguida decidiu se dedicar à faculdade de Direito e à escolinha. Em 1997, deu início à carreira de treinador integrando a comissão técnica do Santos que disputou o Campeonato Paulista de Futebol Feminino.
- Pode ser que a minha experiência com a Seleção na Copa de 94 tenha influenciado na minha decisão de ser treinador, sim. Mas o principal foi o meu interesse pelo futebol feminino e minha vontade de contribuir para popularizá-lo - explicou Kleiton, que está à fente da Seleção de 2009 e comandou o Santos de Marta, Cristiane e Maurine na conquista da Libertadores.
Fonte: Globo.com