Até dezembro de 2012, elas assumem a posição de eletricistas, pedreiras, carpinteiras, pintoras e soldadoras para transformar o Maracanã num estádio mais confortável e seguro. As roupas, o capacete e as ferramentas são as mesmas utilizadas pelos homens, mas as mulheres têm um diferencial: o capricho, o cuidado no acabamento e a limpeza são qualidades típicas da força de trabalho feminina.
Dentre todas elas, destaca-se Walkiria Oliveira, de 33 anos. Ela entrou na obra por meio do curso Mão na Massa, do Senai, que tem parceira com o Consórcio Maracanã. Agora, ela se orgulha de ter seu primeiro trabalho de carteira assinada.
- Achei que seria complicado, mas vi que é bem tranquilo. Algumas meninas me alertaram por ser uma profissão masculina, só que aqui as pessoas têm sido bem legais mesmo. Hoje em dia, é que nem "salão unissex": em qualquer profissão, há mulheres participando. E eu encaro tudo, não deixo de fazer, nem tenho medo de perguntar. As únicas brincadeiras acontecem quando eu pego algo para fazer e alguém grita: "Se afasta, porque ela vai botar fogo em tudo!" (risos). Estar aqui me motiva, vivo um sonho todos os dias. É um trabalho que dá muito orgulho para cada um. Poucas vezes se tem a chance de fazer parte de uma obra tão importante. Estou feliz por Deus ter reservado isso para mim – disse Walkiria, contratada em fevereiro deste ano.
Porém, antes de tentar a sorte na vida como eletricista, Walkiria tinha o sonho bem diferente: ser esportista. Criada na Mangueira, ela fez parte da equipe de atletismo da Vila Olímpica da mesma comunidade. Depois, começou a jogar futebol e, por ser “impedida” de se transferir para o Vasco, resolveu abandonar a carreira.
- Minha vida é ligada ao esporte, fiz atletismo, aqui mesmo no Célio de Barros (Complexo de Atletismo do Maracanã), dos dez aos quinze anos. Competia no revezamento quatro por cem e nos cem metros rasos pela Mangueira e era boa (risos). Depois, joguei futebol pelo Campo Grande. Mas abandonei quando eles me impediram de ir para o Vasco, que me queria. Poderia passar a receber um salário, mas não fico frustrada. Jamais imaginei voltar ao esporte, o que de certa forma está acontecendo. Já tinha trazido minha filha (Thyphany) na estreia do Adriano, pelo Flamengo, e fico feliz que ela diga para as amigas, com orgulho, que a mãe dela trabalha na reforma do Maracanã. É um prêmio - diz ela, referindo-se à vitória do time carioca por 2 a 1, com dois gols do Imperador, sobre o Atlético-PR, no dia 31 de maio de 2009.
As mulheres dominaram mesmo o Maracanã no Pan-Americano de 2007. Pelo torneio de futebol, o Brasil ganhou a medalha de ouro ao vencer na final os Estados Unidos por 5 a 0, gols de Marta (2), Cristiane (2) e Daniela Alves. No mesmo ano, a craque Marta foi a primeira mulher a deixar sua marca na Calçada da Fama.
Fonte: Globo